Autora:
Psicóloga Andréia de Miranda Hollenstein
CRP: 05/36484
O processo migratório e o mergulho em uma cultura estranha à nossa pode por vezes causar um sentimento de solidão, estranheza com o diferente, confusão e desorientação, sentimentos muitas vezes de rejeitar e medo de ser rejeitado. Muitas vezes o estrangeiro se sente novamente como criança que precisa tudo reaprender, a falar e escrever um novo idioma quando necessário, a fazer novos amigos e aprender a integrar-se em sua nova sociedade, acostumar-se com novos hábitos alimentares e privar-se até mesmo de outros, acostumar-se com a geografia e clima do novo lugar; o estrangeiro também precisa entender a política, economia, história e cultura de sua nova casa e principalmente compreender a mentalidade e hábitos das pessoas que lá moram.
O ser estrangeiro muitas vezes também vem acompanhado de ser olhado em inúmeras ocasiões como 'o estranho de uma galáxia distante', e até mesmo ser visto como 'exótico' porém sem se sentir exótico, ser considerado de repente pertencente a um grupo étnico que nunca antes pensou em pertencer e por vezes ser visto como uma figura estereotipada de todos os elementos presentes no imaginário daqueles que cruzam seu caminho.
Além de tudo isso o ser estrangeiro implica sempre também em respeitar, compreender, relevar, aprender e reaprender, acostumar-se, ser paciente, ceder e tudo isso na busca de sentir-se aceito, esta é, diga-se de passagem, a mais natural necessidade do ser- humano: a necessidade de pertencer, de fazer parte! Como estudos psicanalíticos há muito já mostraram, o sentimento de pertença é uma necessidade intrínseca, inerente ao humano, pois buscamos conforto, segurança e construímos nossa identidade através da relação e contato com outro, ou seja, somo seres individuais e relacionais ao mesmo tempo.
Esse furacão de sentimentos nos força a sermos sujeitos fortes e por outro lado totalmente vulneráveis, porém a recompensa está na vivência das experiências - prazerosas ou não de lembrar - nos tornam sábios e ricos em sentimentos.
Aprendi com o tempo também a não confundir ser estrangeiro do estar estrangeiro. Devemos tomar cuidado para não cairmos em uma eterna cristalização de rótulos que muitas vezes brecam as potencialidades individuais de cada um de nós. Todos possuem impressões digitais diferentes, assim como personalidade e caráter preciosamente singulares, portanto não permitam que outrem os reduzam.
Muitas vezes é preciso deixar o orgulho de lado e ser um astuto observador quando somos ainda aprendizes de uma cultura diferente da nossa, na prática é preciso conhecer e estar a par de seus direitos e deveres, no coração humildade e a escolha da felicidade ao invés da vaidade.
Não há uma formula mágica para evitar situações de desconforto em seu novo lar, porém, o que aconselho - que muitas vezes já me ajudou - é ser curioso e atento para cada passo e desafio do dia- a-dia, ouvir as criticas - e elogios! - e procurar aceitá-las mesmo que leve tempo. Estar aberto a novas amizades e pessoas nas quais se possa confiar, este é fundamental para sentir-se pouco a pouco integrado, e principalmente encarar as dificuldades do cotidiano com leveza e bom-humor. Este pode ser um ótimo e infalível remédio.
“Quem não conhece línguas estrangeiras, não sabe nada da própria.”
Johann Wolfgang von Goethe
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