top of page
Buscar

O atropelamento do luto em tempos acelerados: Como se fazer presente para quem perdeu?

  • Foto do escritor: Andreia de Miranda Hollenstein
    Andreia de Miranda Hollenstein
  • 14 de abr.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 11 de mai.

ree


Em 1917 Freud publicou um artigo chamado Luto e Melancolia onde a partir da escuta e observação dos pacientes de sua clínica, ele procura distinguir a melancolia como um estado psíquico ao qual o sujeito vivencia e nele não se sabe do objeto que se perdeu, enquanto que no luto o sujeito sabe o que foi perdido, via de regra segundo Freud, “o luto é a reação à perda de uma pessoa amada ou de algo que ocupa seu lugar, como pátria, liberdade, um ideal, etc.” ocasionando assim um estado de humor deprimido.


Freud defende que o luto não deve ser patologizado apesar de afetar as atividades cotidianas mas sim, deve ser dado o seu tempo para que o indivíduo volte ao seu estado de ânimo natural.

Nos dias acelerados em que vivemos onde não há tempo a perder e o ser eficiente é carregado como um distintivo de valor e a descartabilidade da relações imperam, precisamos mais do que nunca sermos cuidadosos com aqueles que estejam sofrendo com alguma perda e ir na contramão de uma sociedade que tende a não respeitar o luto.

O luto é inescapável, ele acontece queiramos ou não, pois na vida lidamos com perdas cotidianamente, de maiores ou menores dimensões.


A depender da história individual da pessoa e da forma como se deu a perda, o enlutado pode cair em um profundo estado de vulnerabilidade, desamparo e confusão extrema, por isso cercar-se de uma rede de apoio de pessoas confiáveis é essencial para garantir amparo e um espaço seguro para se elaborar a dor com dignidade.

 

Tentativas de forçar o enlutado a sair de seu estado de introspecção, revolta ou prostração pode ser violento psiquicamente e até se tornar perigoso para alguém que acabou de ter seu chão e estruturas abaladas.

Nesses casos, a presença de uma escuta não recriminadora e cobradora, carregam um valor enorme para quem acabou de vivenciar uma perda e precisa ser cuidado com afeto e paciência, pois a dor da perda precisa ser reconhecida ao invés de negada, comparada ou subestimada.


Cada um possui um tempo individual para fazer sua travessia subjetiva para elaborar e ressignificar o que perdeu.


Deve-se evitar a todo custo cobranças e acusações ao enlutado pois incutem uma culpa desnecessária e pioram a autoestima de quem precisa de um quantum significativo de energia psíquica para se recuperar emocionalmente.


O luto se faz em seu próprio tempo, não o apresse e esteja presente para quem acabou de sofrer uma perda.



Autora:

Psicóloga Andréia de Miranda Hollenstein

CRP: 05/36484


Leitura recomendada: O poema "One Art" de Elizabeth Bishop


Referências bibliográficas: Luto e Melancolia. Edição Standard Brasileiras das Obras Completas de Sigmund Freud, v. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1917 [1915]/1974.


 
 
 

Comentários


Atenção: Este site não oferece tratamento ou aconselhamento imediato para pessoas em crise suicida.

Em caso de crise, ligue para 188 (CVV) ou acesse o site www.cvv.org.br

bottom of page