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Atendimento Psicológico Online: Possibilidades e Renovações

Atualizado: 26 de out. de 2023



Autora: Andreia de Miranda Hollenstein



Hoje, após mais de três anos da data oficial do início da pandemia do Covid-19, já podemos ter um panorama significativo do rastro e as marcas que ela deixou em nossas vidas, tanto subjetivamente nas vivências de cada indivíduo assim como na vida em sociedade e como passamos a nos organizar de novas maneiras desde então.


Esse tsunami pandêmico global fez com que pessoas de todo o mundo, de culturas, línguas e hábitos diferentes, ineditamente em nossa geração, passassem simultaneamente por todo o globo pelo mesmo susto e desafios que o vírus nos trouxe; o medo, o confinamento, o desarranjo de velhas estruturas, as perdas, a fragilidade da vida e com isso, a emergência do cuidado com a saúde mental.


Invariavelmente após passarmos por alguma experiência de grande impacto, repensamos nossos objetivos na vida, algumas decisões que estavam em stand by assumiram um caráter de urgência em sua resolução, alguns valores e prioridades foram colocados na balança, tudo isso levou muitas pessoas ao divã pela primeira vez e muitos que já haviam passado por ele, retornaram.


A psicologia não passou ilesa pela pandemia, até os profissionais mais ortodoxos e que torciam o nariz quando assunto era terapia on-line, aderiram ao divã virtual logo nas primeiras semanas frente ao terror do vírus e da necessidade vital de isolar-se para preservar a vida.


O persistente desejo de viver resultou no improviso e na criatividade, dando frutos nos encontros on-line e na recriação e releitura de antigas formas de exercer a clínica psi. O que foi uma triste circunstância forçada que foi o vírus e o isolamento de uma certa forma serviu para tirar os profissionais da saúde mental de uma antiga zona de conforto das paredes de seus consultórios restritos apenas ao alcance da clientela de seus bairros vizinhos e nos proporcionou, ao meu ver, uma nova forma de viabilizar o encontro psicoterapêutico, repensar a técnica e o manejo clínico, e não apenas possibilitando e espalhando o acesso à saúde mental para pessoas que antes apenas com a obrigatoriedade do método presencial, era quase impossível iniciar uma terapia mas também difundindo a importância e normalizar o ato de pedir ajuda psicológica.


Devemos lembrar que o CVV – Centro de Valorização da Vida que já desde sua fundação em 1962 presta um serviço de grande relevância à comunidade oferecendo apoio emocional e prevenção de suicídio, desde então sempre ofereceu seus serviços de apoio psicológico emergencial por telefone, podemos entender que esse foi o primeiro experimento de uma intervenção psicológica à distância que não apenas vem dando certo desde sua fundação como sua existência é indispensável a sociedade civil, apenas no mês de julho de 2020, no auge da pandemia do Covid-19, foram atendidas pelo CVV cerca de 233.000 chamadas segundo seu relatório mensal. Um telefonema com um profissional qualificado muda tudo na iminência de um suicídio e tem sim efeitos psicoterapêuticos quando bem acolhido.


Para os que ainda questionam se a intervenção psicológica por videochamada – nos dias de hoje, por Zoom, Skype ou outras ferramentas – funciona, eu sustento uma posição pessoal a partir de minha experiência clínica que sim, não apenas funciona como devemos pensá-la como mais um formato à favor principalmente de indivíduos em sofrimento psicológico extremo e que se viam excluídos de qualquer possibilidade de acesso à saúde mental, seja por um isolamento geográfico que é o caso de muitos brasileiros que migram para outros países e não falam o idioma local ou à escassez de profissionais na região de quem necessita, muitas vezes interioranas e com ofertas precárias à saúde.


O atendimento psicológico à distância não deve servir para substituir completamente o presencial, muito pelo contrário, deve servir em minha opinião para complementá-lo e auxiliá-lo quando preciso. Descobri isso em minha preciosa experiência profissional como psicóloga na Alemanha que começou em 2009, quando eu estava fisicamente localizada em Berlim mas conterrâneos situados em outras cidades alemãs entravam em contato comigo solicitando atendimento psicológico, e na época, como na Alemanha o atendimento psicológico à distância já era permitido, eu aceitei, e me aventurei a fazer meus primeiros atendimentos às vezes por chamada telefônica ou enfrentando os desafios dos primórdios do Skype. Desde 2009 até hoje continuo tenho a satisfação de atender brasileiros pelo mundo e pessoas de outras nacionalidades; a tecnologia se desenvolve, as demandas se transformam mas o que ainda sustenta hoje e continua motivando minha defesa de atender à distancia (e presencial) é a possibilidade expandida do encontro entre o analista que deseja ouvir e o analisando que deseja e precisa ter suas histórias e dores escutadas e acolhidas, que desafia a barreira da distância, da nacionalidade, do fuso, da cultura e até mesmo do idioma.

Todos deveriam ter acesso à saúde mental e apoio psicológico quando e onde precisarem.


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