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PSICOLOGIA INTERCULTURAL: UMA FERRAMENTA PARA AJUDAR A QUEM MIGRA.

14.07.2012

Vivemos numa época em que pessoas das mais diversas culturas e nacionalidades se entrelaçam pelo globo. Devido às facilidades trazidas pelos meios de comunicação, tecnologia e transporte, o mundo ficou mais interconectado e as fronteiras cada vez mais elásticas. Se deslocar geograficamente ficou fácil. Virtual ou presencialmente, podemos com grande rapidez estar expostos a culturas extremamente distintas da nossa.

Pessoas que, por diversas razões, decidem adotar um novo país para viver são as que mais estão sujeitas ao impacto do choque cultural que desencadeia mudanças importantes em suas relações, afetos, na percepção de si mesmo e do meio em que vive. Um novo idioma para aprender, maneiras diferentes de se relacionar, saudade, solidão, separação, recomeçar do zero, e sua terra natal vista com outros olhos são apenas alguns dos sentimentos que o imigrante vivencia em seu cotidiano.

A psicologia intercultural surge tanto como foco de pesquisa quanto de intervenção clínica com o intuito de observar os fenômenos de ordem cultural que possam afetar a saúde psíquica do sujeito, sendo o foco do psicólogo intercultural: analisar a relação entre cultura e comportamento humanos,  estar sensibilizado para as psicopatologias decorrentes da migração e questões culturais bem como assegurar o bem-estar social e psíquico do expatriado.

Abaixo, encontram-se algumas das principais queixas apresentadas por migrantes na prática clínica:

  • Choque cultural: Espanto e até decepção com novos elementos encontrados na cultura receptora, dificuldade de entender diferentes hábitos e atitudes. O choque cultural pode tanto servir como uma grande ferramenta de interessantes descobertas quanto pode despertar negação e esquiva do contato com o novo.

  • Estresse aculturativo: Se mostra como uma sobrecarga de tarefas que o sujeito é demandado a aprender sobre a cultura que o acolhe, gerando com o tempo estresse emocional.

  • Dor da separação dos familiares.

  • Frustração: Nem sempre tudo ocorre como o planejado e por este motivo é gerado uma série de questionamentos quanto à decisão da mudança de país em si e sobre perspectivas para o futuro. Nesses casos, pode ocorrer até uma fase de estagnação – por um curto ou longo período de tempo - das atividades cotidianas.

  • Choque pela mudança de posição social: muitas vezes o status social do sujeito declina em seu novo país. Até que este se estabeleça em sua profissão, parte temporariamente para outros tipos de emprego que em sua terra natal não faria. Este movimento pode afetar profundamente sua autoestima.

  • Ansiedade: Poderá surgir ao ter que lidar com as perdas, separações, estressores financeiros, discriminação etc. Os sintomas mais apresentados são distúrbios no sono, confusão em organizar as tarefas do dia-a-dia, impaciência, dificuldade em traçar prioridades e nas relações interpessoais.

  • Todos os itens acima podem gerar sintomas depressivos - a queixa mais frequente neste tipo de clínica -  que são adicionados a experiência de se ver só em um país estrangeiro, como também à dificuldade de se inserir em um grupo e de fazer laços de amizades. O indivíduo se esquiva cada vez mais de se colocar em situações que demandem muita energia, sente receio de não se fazer entender e de falhar. Dessa forma,  as motivações se achatam e o dia-a-dia se torna estagnado.

É interessante também saber que a aparição dos problemas acima descritos podem variar muito para cada pessoa. Um indivíduo com elevada auto-confiança passará sem dúvida com muito mais facilidade por cima de certos obstáculos ao contrário de alguém que já carrega certa vulnerabilidade emocional.

Buscar orientação terapêutica o quanto antes, quando se esbarra em alguns empecilhos, muitas vezes próprios do percurso, ajuda muito a organizar sentimentos que com frequência estão ainda confusos e abafados precisando serem trabalhados. Adiar a busca por ajuda só faz aumentar a angústia.

Fazer um estudo prévio do país para onde se está indo ajuda muito. Ler sobre suas peculiaridades, falar com nativos, ter contatos, entre outras pequenas ações, tranquiliza quem está partindo e pode tornar a mudança bem mais fácil.

Contudo, uma das dicas mais preciosas para quem migra é conhecer a si mesmo e estar ciente de seus planos e razões concretas pelas quais estará deixando sua terra.

Trace bem seus objetivos, sempre tendo em mente aqueles que fazem sentido real para sua vida e que contribua para sua própria realização pessoal.


 

Autora: Andreia Hollenstein

CRP:05/36484 

Psicóloga Clínica & Psicanálise

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