Autora:
Psicóloga Andréia de Miranda Hollenstein
CRP: 05/36484
É bastante recorrente na clínica a chegada de pacientes queixosos de algo que mal se consegue por em palavras, para cada um de nós, o sintoma tem diferentes maneiras de se manifestar, uma dor no peito que vem e que vai, uma pressão inexplicável, falta de ânimo e vitalidade para fazer o que antes tinha disposição somadas à uma falta de interesse pela vida. Essas são manifestações do que geralmente nomeamos de angústia, esse sentimento de vazio que não conseguimos a priori descrever com precisão de onde e porque veio e como se faz para cessar.
Nos inclinamos inicialmente a investigar as causas biológicas, recorre-se primeiro à medicina e às soluções medicamentosas, afinal nossa defesa primária é se defender dela, contra atacá-la, sedá-la. Mas e quando são excluídas as causas orgânicas e os psicofármacos não fazem efeito e a angústia persiste? O que isso tem a nos dizer?
Em nossa sociedade de consumo capitalista e que a ordem máxima é não parar mas sim continuar operando a todo custo em uma lógica incessante de produção em meio ao bombardeio de demandas e enxurradas de informações, uma grande indústria se sustenta ofertando mecanismos para calar a angústia, das drogas lícitas às ilícitas e ao consumo desenfreado, mas para a Psicanálise devemos justamente fazer o movimento contrário ao de tentar calar a angústia e sim poder nos permitir dar uma chance de ouvi-la.
Mas por que tentar ouvir algo que dói? Pois a angústia é uma norteadora, ela nos indica sobre algo da própria subjetividade do sujeito que há muito tempo vem sendo negligenciada por uma série de razões intrínsecas à história pessoal de cada um.
Podemos pensar que a angústia tem uma função em si, ela é um ponto de partida para dar início a uma investigação acerca de nós mesmos.
A angústia é sim desestruturante, caótica e deixa a vida de pernas pro ar, mas é justamente aí nesse ponto que devemos olhar com atenção pois é aí que a angústia se manifesta tentando nos sinalizar sobre algo de nós mesmos que deixamos passar, ficou encoberto mas não perdido justamente pela sua importância, algo de nós que deseja mostrar-se.
Para o psicanalista francês Jacques Lacan, a angústia é um afeto que não mente, onde ela aparece é aí que devemos nos interrogar e não anestesiar.
Noto com bastante frequência na clínica, pacientes que chegam ao seu limite de sofrimento e agonia psíquica para finalmente começar a olhar para si mesmo, minha orientação é: Não deixe passar tanto tempo de sua vida para começar a viver a vida que deseja. Pergunte-se: Essa vida que vivo é minha ou eu deixei que a escolhessem por mim? E qual é a minha responsabilidade nisso?
Partindo do raciocínio que as histórias mais difíceis de contar são aquelas que a gente não compreende e portanto sendo estas mesmas que provocam angústia, a psicanálise viabiliza a reconstrução de uma narrativa pessoal e consequentemente uma nova maneira de estar no mundo, possivelmente mais coerente consigo mesmo e com os seus próprios desejos.
“Siga a sua angústia, ela é um bom caminho rumo à ti mesmo.”
Friedrich Nietzsche
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